17 de jun. de 2013

É por 20 centavos sim, mas e daí?

Acho engraçado o quanto as pessoas se iludem repetindo que todos os protestos recentes no Rio de Janeiro, e também no resto do Brasil, não são apenas por causa de 20 centavos. Dá vontade de perguntar para cada um então o que estaria acontecendo nesse momento se a passagem de ônibus não tivesse aumentado esses malditos 20 centavos. Certamente não estaríamos sendo bombardeados (perdoem o trocadilho) com essas imagens horríveis de violência policial gratuita e quebra de todos os direitos, constitucionais, humanos...
Hipocrisia, essa é a palavra, e da pior espécie. Acham que estão lutando por um grande ideal revolucionário, pela definitiva mudança do país, quando tudo isso começou porque a passagem iria aumentar vinte centavos. Não que vinte centavos seja pouco: isso representa milhões no bolso de empresários exploradores e de políticos corruptos. Mas e se não tivesse aumento? E se decidissem demitir todos os cobradores de ônibus, como em grande parte já fazem, para aumentar o lucro sem mudar o preço da passagem? Eu estaria vendo o mesmo movimento a favor desses trabalhadores? Creio que não. A hipocrisia das pessoas que se acham tão altruístas e revolucionárias, quando na verdade estão sendo apenas egoístas e lutando por algo só porque afeta elas mesmas.
Mas, vejam bem, o problema aqui é apenas a hipocrisia, esse não querer assumir que essa luta é por um benefício próprio - mesmo que ese benefício vá afetar milhões de pessoas na mesma situação que você. Na verdade, que mal a nisso? A história nos prova que o ser humano sempre agiu em benefício próprio, mesmo em seus melhores momentos. Eu acredito no homem como egocêntrico por natureza. Afinal, estamos falando do ser que é capaz de criar a maior entidade onipotente, Deus, e dizer que foi feito sua imagem e semelhança: isso não seria a prova máxima de seu narcisismo? Entretanto, se esse impulso egoísta for responsável por criar algo bom para todos, qual é o problema em assumí-lo tal qual ele é?
Não entro de cabeça no movimento, em geral, por isso. Quanto mais tentamos nos desvencilhar desse idéia de que estamos lutando para reverter um aumento de 20 centavos, maiores serão as complicações. Até onde tudo isso vai agora? Se a passagem abaixar, os protestos irão terminar? Ou continuaremos lutando já que agora atingimos questões mais fundamentais, como nosso próprio direito de protestar? Da forma como chegamos até aqui, fica impossível responder tais perguntas porque evita-se o básico.
Não é a Revolução Brasileira que presencíamos, pelo menos ainda. Sim, estamos dando alguns passos em alguma direção. O problema é que é difícil dizer o quão distante vamos, ou mesmo se estamos indo para o lado certo. Mas acredito que enquanto pensarmos que há um problema em dizer "Estou lutando SIM pelos meus 20 centavos" estaremos sendo retardados pelas nossos próprios conflitos internos.

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