26 de ago. de 2012

Hunger Games. Ou quase isso.

Realmente, quantos jovens iludidos continuarão achando que sabem tudo enquanto jovens? Não que eu esteja velha, apesar de me sentir uma anciã sem rugas vez ou outra, mas posso dizer que fui uma desses espécimes. Deveria sentir um pouco de orgulho por isso, tenho certeza agora que fui uma adolescente ingênua. E apesar de ter tantas vezes parado e dito para mim mesma "Você não se conhece" eu agi tanto como se conhecesse. E agora, que não sei mais se posso me considerar adolescente prestes a completar 19 anos, mesmo que ainda me comporte como uma, tenho consciência de mais esse pequeno fato oculto sobre mim e sobre a vida. Pelo menos posso ter ser certeza que mesmo com a idade (!), nunca vou parar de ter essas pequenas epifanias sobre a beleza da realidade.
Acho que posso comparar a vida com a nutrição do ser humano. Não ria, estou falando sério. Pensa bem, precisamos de coisas que alimentem a nossa existência assim como precisamos de alimentos para nosso corpo. Tem coisas que servem como alimento, como alface, e tem coisas que não, como pedra. Tudo bem, eu também não acredito muito que alface seja comestível, mas tem gente que come não é? Se bem que tem gente que come pedra também... Mas não é o ponto. A verdade é que na nossa vida, também tem coisas que nos preenche e coisas que não. Da mesma forma que tem maluco que come pedra, a gente até pode tentar preencher nosso vazio com raiva, mas acho que o resultado não é muito útil. E a menos que pedras matem a fome e tenham poucas calorias, não simpatizo muito com elas.
A questão é que eu tento preencher minha vida com coisas boas. Uma família disfuncional como todas, mas que até amo de vez em quando; um gato gordo; um plano de carreira como jornalista; amigos lindos e maravilhosos. Só que de vez em quando os parentes resolvem brigar, meu gato me arranha, desilusões com a faculdade e (a falta de) estágios, e minha incapacidade de manter laços de amizade estáveis com todos ao mesmo tempo dificultam a minha vida. Eu recorro a uma internet sem nada de útil, sonhos vazios, guias de Paris, baladas repetitivas e até um pouco de álcool para tentar preencher meu vazio. Só que quando acaba e eu deito na minha cama, o vazio continua lá. E minha fome aumenta.
Então eu percebi que, assim como precisamos de todos os nutrientes na nossa alimentação, também precisamos da quantidade certa de cada coisa em nossa vida para completá-la. Não adianta tentar conter a falta de proteínas com carboidratos a mais. Assim como não podemos resolver problemas com a família através do trabalho. Tudo é essencial, e assim eu percebi porque meu vazio continua apesar de ter todo o resto em excesso. Falta amor. Não amor de pai e mãe ou amor de amigos, mas o amor de uma verdadeira paixão. Enquanto eu perdia tempo com paixonites fugazes que não saem do papel e choro com filmes românticos sem finais felizes, lá no fundo eu negava isso. Mas não mais. E talvez eu nunca me imaginaria dizendo isso há 7 anos, mas eu sinto fome de amor.

16 de ago. de 2012

It always sounds like they're fightin'

Boa parte da população mundial sente uma energia misteriosa ligando-os ao mar. É um dos famosos clichês da humanidade, mas um clichê verdadeiro. Imagino que essa ligação seja diferente para cada um, e por isso mesmo especial. Pelo menos, sei que a minha é. Nesse caso tenho sorte de morar no Rio de Janeiro e estar cercada de água por todos os lados todos os dias. Gosto de contemplar aquele azul indefinido nos meus caminhos diários, deixar me afogar naquela água através dos vidros sujos de ônibus enquanto toca alguma música melancólica ao fundo. Ou então sentir a maresia trazendo canções doces e dias felizes com a areia me mantendo firme enquanto sinto o gélido toque na pele quente. O mar nunca está igual, assim como nunca me sinto igual diante dele. Recordações boas e ruins, experiências emocionantes ou devastadores, sensações novas e velhas. Tudo menos indiferença.
Mas há dias que sou especialmente agraciada pelos deuses marinhos com meus momentos favoritos diante dessa imensidão azul. Gosto especialmente dos dias feios, tristes, cinzentos, e se estiver chovendo ainda melhor. Gosto de ver a ressaca, a espuma das ondas se espalhando por metros e metros. Mas não apenas isso. Gosto de ver a água se mover contra as pedras, como em uma guerra de titãs, guerra simbólica para essa menina que ama o mar e tem pavor de rochas.
Ainda mais raramente tenho a sorte de que esses dias ocorram justamente quando preciso ir da Barra ao Leblon ou vice-versa. Teria mais sorte ainda se engarrafamentos acontecessem nesses dias, para ter mais do que os 15 minutos antes de chegar à civilização. Pois antes estava perdida, mergulhada. Enquanto atravesso o Elevado do Joá ou então luto contra meu medo nas perigosas curvas da Av. Niemeyer, olho para baixo e vejo as rochas, minhas cruéis inimigas sendo castigadas pela força do mar revolto. Mas também me vejo caindo e sendo aniquilada no meio da batalha, meu corpo boiando naquela fria água cinza. Um misto de admiração e medo tomam conta de mim durante esses quinze minutos antes de chegar ao Vidigal ou descer o elevado rumo a Av. das Américas. Quinze minutos à deriva.