16 de ago. de 2012

It always sounds like they're fightin'

Boa parte da população mundial sente uma energia misteriosa ligando-os ao mar. É um dos famosos clichês da humanidade, mas um clichê verdadeiro. Imagino que essa ligação seja diferente para cada um, e por isso mesmo especial. Pelo menos, sei que a minha é. Nesse caso tenho sorte de morar no Rio de Janeiro e estar cercada de água por todos os lados todos os dias. Gosto de contemplar aquele azul indefinido nos meus caminhos diários, deixar me afogar naquela água através dos vidros sujos de ônibus enquanto toca alguma música melancólica ao fundo. Ou então sentir a maresia trazendo canções doces e dias felizes com a areia me mantendo firme enquanto sinto o gélido toque na pele quente. O mar nunca está igual, assim como nunca me sinto igual diante dele. Recordações boas e ruins, experiências emocionantes ou devastadores, sensações novas e velhas. Tudo menos indiferença.
Mas há dias que sou especialmente agraciada pelos deuses marinhos com meus momentos favoritos diante dessa imensidão azul. Gosto especialmente dos dias feios, tristes, cinzentos, e se estiver chovendo ainda melhor. Gosto de ver a ressaca, a espuma das ondas se espalhando por metros e metros. Mas não apenas isso. Gosto de ver a água se mover contra as pedras, como em uma guerra de titãs, guerra simbólica para essa menina que ama o mar e tem pavor de rochas.
Ainda mais raramente tenho a sorte de que esses dias ocorram justamente quando preciso ir da Barra ao Leblon ou vice-versa. Teria mais sorte ainda se engarrafamentos acontecessem nesses dias, para ter mais do que os 15 minutos antes de chegar à civilização. Pois antes estava perdida, mergulhada. Enquanto atravesso o Elevado do Joá ou então luto contra meu medo nas perigosas curvas da Av. Niemeyer, olho para baixo e vejo as rochas, minhas cruéis inimigas sendo castigadas pela força do mar revolto. Mas também me vejo caindo e sendo aniquilada no meio da batalha, meu corpo boiando naquela fria água cinza. Um misto de admiração e medo tomam conta de mim durante esses quinze minutos antes de chegar ao Vidigal ou descer o elevado rumo a Av. das Américas. Quinze minutos à deriva.

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